A relação entre microbiota, inflamação crônica e saúde oral mostra que cuidar do intestino é também investir no sorriso
Nos últimos anos, a ciência vem demonstrando, com estudos e prática clínica, que a saúde bucal não pode ser vista isoladamente. O que acontece no intestino, no cérebro e até no metabolismo de substâncias como a histamina tem impacto direto em processos inflamatórios que também atingem a boca.
O papel da microbiota intestinal
No nosso intestino, bilhões de bactérias atuam na digestão das fibras alimentares, produzindo os chamados ácidos graxos de cadeia curta (SCFAs), como o butirato e o propionato. Essas substâncias ajudam a reduzir inflamações, fortalecem a barreira de proteção do cérebro e influenciam o sistema imunológico.
Quando há equilíbrio, o corpo funciona melhor, com menos risco de doenças inflamatórias. No entanto, quando ocorre disbiose intestinal (desequilíbrio da microbiota), pode haver maior permeabilidade intestinal, o chamado “intestino permeável”. Isso permite a entrada de toxinas na circulação, estimulando inflamações que afetam o organismo inteiro.
Inflamação, obesidade, enxaqueca e periodontite
Estudos mostram que a obesidade e dietas ricas em gordura saturada aumentam a produção de substâncias inflamatórias. Esse quadro está ligado não só à depressão e à enxaqueca, mas também a doenças crônicas que têm relação direta com a Odontologia, como a Periodontite.
A inflamação sistêmica deixa o paciente mais vulnerável a problemas gengivais, perda óssea e até dificuldades de cicatrização em cirurgias ou implantes dentários. De acordo com a dentista Dra. Simone Prada, “quando pensamos em inflamação, precisamos entender que não se trata apenas da gengiva ou da cavidade oral. A inflamação é um fenômeno sistêmico e a boca sofre tanto os efeitos quanto pode contribuir para esse processo”.
Histamina e crises de dor
Outro ponto importante é a relação da histamina com a enxaqueca. Muitos pacientes que sofrem com esse tipo de dor apresentam níveis mais baixos da enzima DAO (diaminoxidase), responsável por degradar a histamina dos alimentos. O excesso dessa substância pode favorecer crises de dor de cabeça, mas também está associado ao aumento da inflamação corporal.
Para o dentista, esse conhecimento é útil: alguns alimentos ricos em histamina (como queijos maturados, vinho e embutidos) podem potencializar processos inflamatórios que pioram doenças periodontais e impactam na saúde oral de pacientes já vulneráveis.
A Dra. Simone Prada reforça que a Odontologia não pode mais ser vista como uma área isolada. “Nosso papel é olhar o paciente de forma integral, entendendo que fatores como dieta, microbiota intestinal e até enxaqueca influenciam diretamente a saúde bucal”.
Os estudos reforçam algo que a Odontologia moderna já defende: a boca faz parte do corpo. “O paciente não chega ao consultório com uma doença isolada, mas sim com um organismo inteiro influenciado por dieta, estilo de vida, inflamação e até saúde intestinal. Portanto, ao atender pacientes com Doença periodontal persistente, Dor orofacial – 80 % dos casos de pacientes com enxaqueca – os mesmos apresentam também DTM e dificuldades de cicatrização em procedimentos – vale considerar o impacto da alimentação, da saúde intestinal e até encaminhar para avaliação com nutricionista ou nutrólogo”, explica a dentista.
O equilíbrio da microbiota intestinal e o metabolismo de substâncias como a histamina não só influenciam o cérebro e a enxaqueca, mas também repercutem diretamente na saúde bucal. Dentistas atentos a esses fatores conseguem oferecer uma visão mais completa de cuidado, ajudando seus pacientes a conquistarem não apenas um sorriso saudável, mas também muito mais qualidade de vida.
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A Dra. Simone Prada é autora do livro “Terapias Não Medicamentosas para DTM (Disfunção Temporomandibular)”. A obra, para pacientes e profissionais de saúde está à venda na Amazon.
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